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29 de maio de 2025

O Homem que Caminha Só



Ele não nasceu forte; foi a dor quem o esculpiu.

Cresceu entre ausências, onde o silêncio gritava mais alto que qualquer conselho.

Aprendeu cedo que o mundo não perdoa os fracos, mas também não abraça os fortes.

A vida o tomou pela mão com dedos de ferro e o arrastou por vales escuros, sem mapa, sem luz, sem promessas.

 

Era um menino perdido num mar de impossibilidades, até que aprendeu a nadar em suas próprias lágrimas.

A fome o ensinou sobre desejo. A perda, sobre valor. A solidão, sobre caráter.

Seu coração virou armadura; sua alma, trincheira.

Não decorou frases prontas — escreveu suas próprias doutrinas no mármore da experiência.

 

Homem de palavra, mesmo quando o mundo mentia.

Homem de silêncio, quando as palavras não podiam salvar.

Homem de fé, mas não daquela que espera — da que levanta e constrói.

Conheceu o amor, sim, mas desses que vêm para ensinar e vão embora sem dizer adeus.

 

Leu mais do que falou. Amou mais do que pôde.

Carregou em si mil teses — sobre a justiça, sobre Deus, sobre o tempo.

Foi pai de ideias, filho da dor e irmão da esperança.

Tinha fome de mundo, mas apetite por justiça.

 

Fez de cada cicatriz um livro sagrado.

De cada rejeição, um portal para o autoencontro.

Não buscava aprovação — buscava propósito.

E encontrou em si mesmo um universo que ninguém nunca tentou explorar.

 

Alguns o chamaram de frio. Outros, de gênio.

Poucos o compreenderam. Muitos o julgaram.

Mas ele seguiu… um passo após o outro…

Entre ruínas e vitórias, com olhos firmes no horizonte e os pés no chão que arde.

 

De vez em quando, sim, se deixava levar pelo prazer.

Pecava com a lucidez de quem sabe o preço.

Caía de olhos abertos, pois não era santo, mas era inteiro.

Sua maior virtude era não esconder seus demônios — conversava com eles.

 

Hoje, ele caminha só, mas não está perdido.

Carrega um arsenal de experiências e uma biblioteca viva de pensamentos.

Não precisa de palco — basta-lhe a estrada.

Porque ele não quer ser admirado. Quer ser compreendido.

 

E se você o encontrasse hoje, talvez não o reconhecesse.

Mas sentiria, no olhar, o peso do que só os grandes suportam em silêncio.

Não peça que ele se explique. Apenas pergunte, com honestidade:

 

Você teria suportado o que ele viveu sem se tornar alguém pior?




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