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19 de junho de 2025

Entre Diamantes e Destinos, ou Amizades & o Tempo.




Amizade é barro antigo que o tempo esculpe com dedos de eternidade.
Não nasce pronta: germina em silêncios partilhados,
em olhos que se entendem sem palavras,
e cresce no terreno fértil da confiança, 
onde a raiz é a lealdade e o fruto, a presença.
Há quem chame de sorte, 
mas é obra do destino que não erra o entalhe quando junta almas raras.
Não se compra, não se mendiga, não se exige — conquista-se com inteireza e verdade.

Enquanto os amores ardem e se apagam como fogueiras de São João,
a amizade cintila como estrela antiga: luz constante em noite escura.
Mais que um irmão de sangue, é o irmão de escolha, de afeto sem cláusulas,
de ombro onde repousa o cansaço e de riso que estoura quando a dor quer calar.
É a mão que não solta quando o mundo gira ao avesso.

O tempo, escultor paciente, é quem lapida os vínculos verdadeiros.
Com ele, as arestas se tornam encaixes e os desencontros, aprendizados.
Como o diamante que só brilha após a pressão,
as amizades genuínas revelam-se após a prova do tempo.
São ouro de mina, relíquia que não se acha em toda esquina.

A honestidade é sua fundação 
sem ela, desaba o edifício mais ornamentado.
Lealdade é seu alicerce: firme, mesmo nas tempestades mais amargas.
E o respeito é a moldura invisível que preserva o quadro do afeto intacto.
Cada gesto, palavra ou silêncio carrega a poesia da confiança mútua.

São mais sublimes que muitos amores passageiros,
porque não cobram juras, apenas presença sincera.
São mais preciosas que alguns irmãos,
pois nascem do vínculo eleito, e não da obrigação herdada.
Na amizade verdadeira, não há papel de protagonistas — há simetria.

Quantas vezes o amigo foi pássaro a cantar nos telhados da minha tristeza?
Quantas vezes foi cais quando fui barco perdido no nevoeiro?
E quando o mundo parecia ruir em cinzas,
lá estava ele: fogo baixo aquecendo meu inverno.
É poesia em forma de pessoa — verso vivo de reciprocidade.

A amizade é um pacto tácito entre almas que se reconhecem
num mundo onde tantos se mascaram.
É o antídoto para a solidão do século,
o abrigo que resiste às estações e às decepções do existir.
Quando o amor parte, a amizade fica. Quando a esperança morre, ela a enterra de mãos dadas.

Cultivar uma amizade é como lapidar um cristal bruto:
cada erro ensina, cada acerto fortalece.
E quando, por fim, a vida se põe em crepúsculo,
restam poucos ao redor — mas os verdadeiros sempre ficam.
Pois amigo que é amigo, não é visita: é morada.

Assim, brindo aos que permanecem.
Aos que não fogem diante da dor,
aos que celebram as conquistas como se fossem suas,
e que mesmo no silêncio, dizem: estou aqui.
Pois são esses que fazem da vida um poema digno da eternidade.



Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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