Plantamos amor, colhemos espinhos,
regamos o justo, cresce o espúrio.
Erguemos pontes com mãos limpas,
e eles com sangue constroem impérios.
Mentem, traem, riem no luxo,
caluniam em jantares requintados,
difamam com lábios dourados,
e o mundo... silencia e aplaude.
Dizem que tudo volta,
mas o retorno tarda ou nunca vem.
O vil prospera, o justo se cansa,
a colheita da alma vira desdém.
A tal “lei da semeadura”...
quem a escreveu não viu Babilônias.
Nem os altares erigidos com cadáveres,
nem as coroas feitas de mentira.
Então, o que vale?
Talvez e só talvez a consciência.
Não a paz dos justos, mas o sono dos íntegros,
o silêncio que não esmaga, mas liberta.
Viver com a alma limpa é revolução.
Ser bom em um mundo torpe é heresia.
Mas ainda assim, escolho a lucidez,
a honra que ninguém vê, mas arde
como fogo secreto, inextinguível.
Se não colho o que planto,
é porque o solo do mundo é podre.
Mas minha semente, ah...
ela é de ouro. E arde no tempo.