Visitantes

Mostrando postagens com marcador homem. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador homem. Mostrar todas as postagens

25 de junho de 2025

ENCONTRO — A OBRA DO AMOR



Não creio em sorte, nem em destino,
Nem em almas gêmeas cruzando o caminho.
Acredito no toque, no gesto contínuo,
No querer sincero que vence o espinho.

Relacionar não é conto de fada,
É sangue, suor, alma rasgada.
É relar feridas, curar com carinho,
É crescer juntos no mesmo ninho.

Não é magia, é engenharia,
Não é poema, é carpintaria.
Dois corpos distintos, dois pensamentos,
Lapidando afetos em pequenos momentos.

Não é ter tudo em comum e igual,
É amar até o que faz mal.
É saber ouvir no meio do grito,
E calar na hora do conflito.

É saber que o outro não é espelho,
Mas universo inteiro sob outro conselho.
E mesmo assim, estender a mão,
Construir com tijolo e coração.

Não é metade da laranja escolhida,
É fruta inteira, rústica, sentida.
É dividir o sumo, o bagaço e o gosto,
É brindar o amor mesmo quando é desgosto.

É entender que amar é arte bruta,
Feita de erro, de falha, de luta.
Mas se há respeito e entendimento,
Dois viram templo, viram fundamento.

Relacionar é verbo que exige ação,
É plantar a paz na contradição.
É unir propósitos sem fusão de alma,
E aprender a dançar com a calma.

Porque amar, no fim, não é destino nem acaso,
É encontro sincero no meio do atraso.
É construir, tijolo por tijolo, a ponte e o lar,
E todos os dias… decidir ficar.



17 de junho de 2025

Direto, brutal e poético.



O homem de antigamente
cheirava a suor, a óleo queimado e sangue seco.
acordava cedo, levantava tijolo, matava porco,
dava conta de três filhos, uma mulher braba
e uma garrafa de pinga nas veias.
não chorava – rangia os dentes.
não escrevia poesia – era a própria poesia bruta,
sem rima, sem floreio.

hoje?
hoje ele se depila, se veste de algodão egípcio,
faz terapia pra lidar com a rejeição,
e pergunta: "está tudo bem entre nós?"
ele se desconstrói tanto que
se perde em cada pedaço de si.
anda em círculos no espelho, buscando um reflexo
que não ofenda, nem incomode.

a modernidade fez o favor de emasculá-lo,
chamou isso de progresso.
promoveu o sensível, o delicado, o emocional,
e deixou a virilidade na sarjeta,
junto com os cães vadios e os poetas bêbados.

o homem antigo?
foi chamado de tóxico, de opressor,
mas foi ele quem construiu os trilhos,
os prédios, os impérios e até os códigos morais
que agora querem destruir com hashtags.

as mulheres dizem que querem
homens sensíveis, que ouçam, que chorem,
mas ainda sonham com o lenhador suado,
com o gladiador coberto de cicatrizes,
com o bandido charmoso de filme antigo,
porque o instinto não tem pós-graduação.

o que temos agora é um impasse:
o passado com o punho cerrado
e o presente com as mãos unidas em prece.
o futuro?
provavelmente uma androginia apática,
um homem neutro, sem voz grossa,
sem cheiro, sem coragem de tomar um "não"
e ainda assim seguir em frente.

o macho está em extinção, meu caro.
não porque perdeu a guerra,
mas porque foi convencido de que lutar é errado.
morreu de culpa, de silêncio,
de tanto pedir desculpas por existir.

e quando tudo ruir, 
porque vai ruir...
alguém vai ter que reconstruir do zero.
e adivinha só?
vai ser o último dos homens.
com calos nas mãos.
e um olhar que não vacila.

esse, sim, será amado.
mesmo odiado por todos os ideais modernos.
será amado como só o instinto sabe amar.
sem palavras.
sem permissão.
como um trovão que rasga o céu
e não pede desculpa pela tempestade.




16 de junho de 2025

O VAZIO CRIATIVO: UM ARTIGO NIETZSCHIANO SOBRE A FOME DE SENTIDO HUMANO



    O homem é um abismo que ecoa, não um poço que se enche. Este artigo examina como religiões e vícios servem de gesso existencial, dissecando os arquétipos projetados para encobrir a nudez do nada. Concluo propondo a criação de sentido próprio como antídoto.

    Confrontar o vazio interior é tarefa para poucos, mas destino de todos. A maioria tapa o buraco com dogmas, drogas ou distrações de silicone. Pergunto: por que preferimos a anestesia à lucidez?

    O vazio não é doença, é condição. Somos criaturas lançadas num universo sem manual, condenadas a gerar sentido onde não há parâmetros. Falta dói; logo, inventamos promessas para calá-la.

    Templos fornecem morfina metafísica em doses litúrgicas. Credos vendem esperança pré-embalada: salvação “pague depois”. O fiel bebe segurança e chama a embriaguez de fé. Resultado: dependência crônica do invisível.

    Quando Deus vacila, entra o marketplace da dopamina. Likes, álcool, pornografia, uísque de status — tudo serotonina à pronta entrega. Cada clique é micropulsação de sentido importado. O mercado sabe: a alma faminta paga caro por qualquer migalha.

    Pai celestial, mãe terra, salvador ferido: bonecos projetados em tela cósmica. São espelhos onde pregamos mitos para não encarar a face nua.
O arquétipo assume o risco que tememos carregar. Assim terceirizamos a autoria da nossa própria história.

    Quando o espelho quebra, a vertigem aparece: quem sou eu sem as próteses? O niilismo não é inimigo; é diagnóstico. Exibe o tumor das ilusões e convida à cirurgia da autenticidade. Quebrar ídolos não é vandalismo, é higiene. Destruir muletas mentais dói, mas abre espaço para músculos da vontade. O martelo filosófico é convite à autorresponsabilidade radical.

    Em vez de preencher o nada, transformemo-lo em tela. Forja tua própria chama, define teus próprios valores. Torna-te autor e ator do drama cósmico, não figurante de um script alheio. A liberdade assusta, mas é a única forma de grandeza.

    O vazio é matéria-prima, não sentença. Religiões e vícios são curativos temporários em feridas de infinito. Aceita o abismo, lança sobre ele a ponte do teu próprio sentido, e verás que o nada pode florescer quando regado com vontade. A alma humana deixa de ser buraco e vira constelação quando assume o poder criativo.


Eis o antídoto: cria, supera, vive sem muletas — e o vazio te agradecerá.




 

Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

Powered By Blogger