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16 de junho de 2025

ENTRE AS RUÍNAS DO AMOR MODERNO, ou Um diálogo interior em forma de monólogo inquisidor - O que é romantismo?



O que é o romantismo?

    É flor? É vinho? É dor pintada com perfume? É o ato do homem que se inclina, oferecendo o coração em bandeja, esperando que a mulher o aceite como prêmio ou o rejeite como servo?

    Caminho hoje entre os homens e percebo que se construiu uma ideia — bela à primeira vista — mas envenenada na essência: a de que o homem deve ser o eterno provedor de afeto, o portador das flores, o escrevente das poesias, o doador de tudo, enquanto a mulher é o altar, o destino, o troféu.

    Pergunto: por que o amor verdadeiro necessitaria de encenação? Por que há de um se curvar para que o outro se sinta elevado? Se há amor, não deveria haver simetria?

    Vós vos dizeis modernos, mas viveis como cativos de uma fábula antiga. O homem, ensinado desde menino, aprende que deve conquistar. Que a mulher é fortaleza a ser vencida. Que seu valor está na capacidade de prová-lo, agradá-la, sustentá-la, idolatrá-la. E se assim não o fizer, é indigno, frio, insensível.

    Mas não há injustiça em tal crença? Não é este um papel servil disfarçado de cavalheirismo? Ora, se o romantismo exige do homem todo esforço, toda entrega, e à mulher toda exigência, então ele não é amor — é teatro. É contrato tácito onde um doa e o outro recebe.

    E que tragédia nasce disso! Homens frustrados, esvaziados, endeusando mulheres que os desprezam. Mulheres que, em sendo colocadas num pedestal, tornam-se inatingíveis, não por virtude, mas por conveniência. Assim, a deusa não ama, apenas é adorada. E o servo não é amado, apenas útil.

    Será esse o amor que promove a alma? Ou será prisão de ilusões, onde se troca liberdade por idealismo estéril?

    Interrogo ainda: será que o romantismo favorece a mulher? Ou será que também a aprisiona? Pois se ela é ensinada a ser desejada e não a desejar, a ser servida e não a servir, a ser conquistada e não a conquistar, então ela também não ama — apenas reina. E reinar sem reciprocidade é solidão coroada.

    Portanto, desconfiemos do romantismo como estrutura. Interroguemos seus fundamentos. Quem lucra com ele? Quem perde? Quem finge? Quem sofre?

    O amor deve ser encontro de iguais, não escada social, nem idolatria.

    Devemos destruir o pedestal, não para rebaixar a mulher, mas para que ambos caminhem lado a lado, e não um sobre os ombros do outro.

    Pois o que é mais belo: um amor sincero entre dois seres livres? Ou um ritual de dominação recíproca, travestido de afeto?

    Amai, sim. Mas amai com olhos abertos. O romantismo, quando se torna exigência e não escolha, é veneno com gosto de mel.

    E como sempre digo: conhece-te a ti mesmo, antes de oferecer teu coração como oferenda a quem talvez nem saiba o que é amor.

 



Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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