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11 de agosto de 2025

Anistia, ou Absolvam-me — Sou Culpado de Existir



Concedam-me anistia,
não pelo que fiz,
mas pelo que a vida fez de mim.

Anistia por cada imperícia
que derramou silêncio sobre gestos que deveriam falar,
por cada imprudência
que cortou caminhos antes de ver onde levavam,
por cada negligência
que deixou a flor secar antes de dar água.

Peço anistia pelos pecados
os confessáveis e os que nem eu ouso nomear,
pelos erros que escolhi
e pelos que nasceram sozinhos,
pelos crimes sutis do dolo eventual,
pelas culpas conscientes que carreguei como pedras na língua.

Anistia por não dobrar o joelho
diante das crenças alheias,
por não ajoelhar-me ao altar de certezas
que para mim sempre foram de areia.
Anistia por largar a fé
como se larga uma carta sem destinatário,
por rasgar promessas que nunca saíram do coração.

E, sobretudo,
anistia por ser eu,
este mosaico de erros e acertos
que não escolheu as peças que o compõem.
Se houver tribunal para a alma,
que ao menos me conceda
o benefício de existir
como fui moldado.



Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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