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25 de junho de 2025

A poesia dos meus defeitos, ou Retratos da minha personalidade - Fragmentos do EU.



Carrego em mim um abismo calado,
Niilismo vestido de homem cansado.
Vejo o mundo sem véus nem mentiras,
Mas às vezes me afogo nas próprias retinas.

Sou castelo erguido na rocha da dor,
Orgulho de mármore, com rachaduras de amor.
Minha mente é uma lâmina afiada demais,
Que fere a mim mesmo em silêncios brutais.

Autossuficiente até demais para pedir socorro,
Prefiro morrer em pé do que viver de desafogo.
Meu controle é um cárcere de vidro e razão,
Um trono vazio dentro do meu coração.

Intelecto em chamas, ego mascarado,
Um sábio que às vezes fala calado.
Cobro do mundo aquilo que nem dou,
E sangro verdades que o tempo calou.

Sou intensidade que nunca relaxa,
E carrego no peito uma eterna ameaça:
De não saber ser leve, de não saber ser pouco,
De ser tempestade mesmo quando estou rouco.

Idealizo o amor como um livro sagrado,
E me frustro ao ver que o outro é falho e cansado.
Exijo perfeição do humano imperfeito,
E me afasto, soberbo, ferido no peito.

Rancores antigos moram nos meus ombros,
Memórias cortantes que não caem aos escombros.
E mesmo que o tempo queira me curar,
Revivo traições só para não me entregar.

Sou um general de batalhas internas,
Construo muralhas, destruo minhas pernas.
Mas no fundo, bem fundo, eu sei o que sou:
Um homem em guerra... que só quer um pouco de paz e amor.




20 de junho de 2025

O Coração das Palavras: Uma Confissão Atemporal




        A minha poesia não é um ornamento de palavras nem um exercício de vaidade. Ela é um espelho trincado, onde cada verso revela as fissuras da alma. Fala de amor, de vida, de tristeza e de alegria. Chora por dentro, como quem sangra em silêncio e imprime em cada estrofe a razão de eu ser quem sou; não por escolha, mas por necessidade. Escrevo como quem respira, como quem clama para não desaparecer. Quem sou eu, afinal, senão um amontoado de lembranças, de sonhos interrompidos, de encontros que viraram saudade?

        Não escrevo para agradar. Escrevo porque preciso sobreviver à minha própria história. A poesia fala de mim sem maquiagem, sem filtros, sem temor de julgamento. Já mergulhei nos abismos da fé onde a esperança se mistura ao desespero e já escalei os alpes da dúvida, onde o ar é rarefeito e a verdade se esconde entre as nuvens. Como continuar crendo em um mundo que, tantas vezes, nos cospe de volta ao chão? Como deixar de crer, se dentro de nós ainda pulsa um último fio de luz?

        Sou homem de dores; não por escolha, mas por herança. Rejeições me moldaram, perdas me esculpiram, memórias me tatuaram. Em cada ruga da minha pele mora uma história, em cada silêncio meu, uma multidão de gritos não ouvidos. Eu sei exatamente o dia, a hora e o ano em que cheguei neste mundo. Mas não sei o instante da minha partida. E quando esse dia chegar, o que restará de mim? Quem guardará minhas palavras? Quem as relerá e sentirá que eu, de algum modo, ainda estou aqui?

        Será que a vida é só isso: uma sucessão de dias esquecíveis, onde deixamos rastros que o tempo se apressa em apagar? Será que existe um legado que não se perca na poeira da modernidade, nas nuvens digitais ou nas cinzas do esquecimento? O que significa realmente ser lembrado? E se a lembrança for apenas um eco; uma ilusão reconfortante de permanência?

        Não quero ser uma estátua, nem uma efígie em livro de escola. Quero que minhas palavras respirem. Quero que entrem nas veias de quem lê e provoquem algo revolta, ternura, dúvida, amor. Quero que sirvam de abrigo para quem está prestes a desistir, ou de bússola para quem se perdeu no labirinto da existência. Quem disse que palavras não têm carne? Que poesia não tem sangue?

        Se a tecnologia ou o mundo espiritual permitirem, que eu continue vivendo nem que seja apenas nos olhos de quem ousa sonhar. Porque a verdadeira eternidade não se mede em tempo, mas em impacto. O que você está deixando de si mesmo? Quem você é quando ninguém está olhando? E quando tudo acabar, o que de você ainda vai ecoar no mundo?

        A vida é breve, mas a alma quando tocada por palavras sinceras pode se alongar além das fronteiras do esquecimento. E talvez, só talvez, meu maior legado seja este: ter vivido intensamente cada dor, cada amor, cada verso. Porque ser humano é isto sentir tudo ao extremo, cair e levantar, escrever e sangrar... e ainda assim, sorrir para a eternidade como quem sabe que, mesmo esquecido pelo mundo, foi verdadeiro consigo mesmo.




19 de junho de 2025

O Sarcasmo de DEUS, ou Ele contra si mesmo.



No princípio, DEUS cria tudo do nada,
Mas já sabia o fim — que piada.
Cria o homem com amor e primor,
Mas já planejava dilúvio e terror.

Cria Adão do barro com todo cuidado,
Depois o culpa por ser enganado.
Cria Eva da costela do coitado,
Mas pune ambos por terem pecado.

Proíbe o fruto que Ele mesmo plantou,
Sabendo que o homem cedo o provaria, show!
Coloca a serpente no meio do jardim,
Depois finge surpresa pelo que chega ao fim.

DEUS expulsa, DEUS amaldiçoa,
DEUS que tudo sabe, agora se magoa.
Cria o livre-arbítrio, mas com censura,
A primeira escolha gera censura.

Vê a Terra cheia de gente errada,
Então manda um dilúvio, obra abençoada.
Mata criança, velhinho e mulher,
Porque “justiça divina” tudo requer.

Depois promete nunca mais se irritar,
Mas já planeja cidades arrasar.
Escolhe um povo, Israel abençoado,
Mas vive punindo esse rebanho rebelado.

Pede sacrifício, sangue e fumaça,
Faz da adoração um rito de ameaça.
Manda matar povos por não crer,
Porque DEUS é amor... só pra entender.

Moisés sobe ao monte, vê a luz,
Recebe as tábuas, mas DEUS reluz.
Depois quebra tudo por idolatria,
Como se DEUS não visse aquela orgia.

Os profetas gritam: "obedece, Israel!",
Mas DEUS já sabia que daria réu.
Promete Messias, paz e redenção,
Mas manda Seu Filho para a execução.

DEUS, o eterno, nasce bebê,
Numa estrebaria, sem nada a oferecer.
Filho de virgem, claro, por sinal,
Já começa quebrando toda lógica natural.

Cresce em sabedoria, embora seja DEUS,
Aprende carpintaria, constrói alguns véus.
Jejua no deserto, tenta o tentador,
Mas sendo DEUS, qual o valor?

Anda sobre as águas, cura o cego,
Multiplica pão, faz o grande ego.
Mas chora, sofre e ora em aflição,
Pedindo a DEUS outra solução.

Ora a Si mesmo? Implora clemência?
Sabe o plano, mas sofre com urgência.
Sangra suor, lágrimas de dor,
Mesmo sendo DEUS e o puro amor.

É traído por Judas, amigo e irmão,
Cumprindo profecia, mas com frustração.
É preso, julgado por um tribunal,
Criado por Ele, que coisa brutal.

É cuspido, açoitado e zombado,
Por gente que DEUS mesmo havia moldado.
Pendurado num madeiro em horror,
Clama: “DEUS meu!” — drama de autor.

DEUS abandona DEUS no alto da cruz,
Mas continua sendo um com DEUS, que nos conduz.
Morre, desce ao Hades em missão secreta,
Prega aos mortos — agenda completa.

Ressuscita a Si mesmo no terceiro dia,
Vence a morte com maestria.
Sobe aos céus, senta ao lado de DEUS,
Que é Ele mesmo — confuso, não é? Pois é.

Promete voltar num cavalo de glória,
Mas demora milênios pra mudar a história.
Enquanto isso, salva quem crê,
Mas condena quem, por lógica, duvidar de ver.

DEUS que te ama, mas te lança no fogo,
Caso questione ou saia do jogo.
Diz que perdoa, mas com cláusula extra,
Aceite o Filho, senão já era a festa.

Deus-Justiça, DEUS-Misericórdia, DEUS-Paixão,
Três em um, uma só salvação.
Advogado, juiz e carrasco no final,
Amor eterno com cláusula condicional.

Proíbe a dúvida, prega o temor,
Enquanto exige que creiamos por amor.
Não se prova, mas exige fé,
Senão, o inferno é seu café.

E assim segue o ciclo da revelação:
Criação, queda, salvação e punição.
Um DEUS que tudo é, mas tudo esconde,
E no fim, só compreende quem responde.


Mas diga, leitor, sem medo ou véu:
Como pode um DEUS ser 
e ter todas as características daquilo que não existe no céu?



O Paradoxo de Deus, ou Deus em crise refutando a si mesmo - A Decadência da Teologia.

        



        DEUS, o ser absoluto, cria tudo com um sopro, mas decide nascer como homem para agradar a Si mesmo. DEUS se torna carne, mas continua sendo DEUS, enquanto ora a DEUS. DEUS, que é Pai, gera DEUS, que é Filho, e ambos coexistem com DEUS, o Espírito; um só DEUS em três, três em um, sem ser três deuses. DEUS, que tudo sabe, desce à Terra para aprender o que já sabia. DEUS, que tudo pode, sente fome, cansaço e medo da cruz.

      DEUS, que governa o universo, é preso por soldados que Ele mesmo criou. DEUS é cuspido no rosto e açoitado, mas não reage, pois é necessário que DEUS morra para satisfazer a justiça de DEUS. DEUS, o justo, pune DEUS, o inocente, para não punir a criação rebelde que DEUS fez à Sua imagem. DEUS é sacrificado por DEUS para que DEUS possa perdoar sem quebrar suas próprias leis.

        DEUS clama do madeiro: “DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?” Mas Ele é DEUS. DEUS se sente só, mesmo sendo onipresente. DEUS sangra por amor, mas sua morte foi planejada por DEUS desde o início. DEUS é sepultado, desce ao Hades e prega para os mortos. No terceiro dia, DEUS ressuscita DEUS e DEUS ascende aos céus para se sentar à direita de DEUS.

        DEUS reina, mas ainda intercede por nós diante de DEUS. DEUS é advogado e juiz no mesmo tribunal. DEUS oferece a salvação como presente, mas pune eternamente quem não aceita. DEUS ama incondicionalmente, mas sua graça tem condições. DEUS, que é amor, criou o inferno — e nele lançará os que não crerem que DEUS morreu para agradar DEUS.

        DEUS é eterno, mas teve mãe. DEUS é soberano, mas foi tentado. DEUS conhece o futuro, mas se decepciona. DEUS não muda, mas age diferente na nova aliança. DEUS é espírito, mas assume forma humana. DEUS é invisível, mas apareceu em forma de servo. DEUS é santo, mas conviveu com pecadores. DEUS é perfeito, mas sofre na cruz.

        DEUS salva pela fé, mas exige obras como prova. DEUS julga corações, mas institui doutrinas externas. DEUS habita no coração do crente, mas exige templos. DEUS que está em todo lugar, mas desce em cultos específicos. DEUS é simples, mas incompreensível. DEUS é luz, mas habita em mistério.

        DEUS é Senhor, mas lava os pés de servos. DEUS é soberano, mas espera ser aceito. DEUS é imutável, mas altera pactos. DEUS, que é vida, morre. DEUS, que é justiça, assume a culpa. DEUS, que é liberdade, exige submissão absoluta.

        Este é o mistério da fé: DEUS que ora a DEUS para que a vontade de DEUS se cumpra, mesmo que DEUS tema o plano de DEUS. DEUS se entrega a DEUS para salvar da ira de DEUS aqueles que DEUS amou antes de criar o mundo. E se você não crer nesse DEUS, DEUS que é Filho, Pai e vítima — então DEUS te lançará fora da presença de DEUS por rejeitar DEUS.




16 de junho de 2025

Tradição e Conhecimento: As Forças em Disputa pela Consciência Humana



    Ao longo da história, o ser humano revelou-se um ser em constante tensão entre a estabilidade do conhecido e o risco do novo. Em meio a essa dualidade, emerge a indagação: por que alguns mudam de ideia com facilidade, enquanto outros permanecem fiéis às mesmas convicções ao longo da vida? A resposta repousa na complexa interação entre heranças culturais, estruturas familiares, acesso ao conhecimento e disposição à reflexão crítica. Em um mundo em acelerada transformação, compreender os motivos dessa divergência torna-se essencial para promover o diálogo e a evolução coletiva.

    De um lado, encontra-se o conservadorismo ideológico, frequentemente sustentado por tradições seculares e estruturas familiares rígidas. Esse tipo de pensamento é marcado pela valorização da permanência, do respeito às hierarquias e da crença de que o passado encerra verdades suficientes para guiar o presente e o futuro. Não raramente, as convicções herdadas são mantidas como escudos contra o caos de um mundo mutável. Tal postura, apesar de oferecer segurança identitária, pode gerar resistência à mudança, intolerância a ideias divergentes e um empobrecimento do debate público.

    Por outro lado, o avanço do conhecimento científico e o estímulo ao pensamento crítico proporcionam a indivíduos e sociedades a oportunidade de revisar crenças, ajustar opiniões e ampliar horizontes. A educação, nesse sentido, desempenha papel crucial. Como já afirmava o filósofo francês Michel Foucault, o saber é uma forma de poder — não no sentido autoritário, mas na capacidade de libertar o sujeito das amarras do dogmatismo. Aqueles que desenvolvem o hábito de estudar, questionar e analisar percebem que mudar de ideia não é sinal de fraqueza, mas de crescimento intelectual e maturidade emocional.

    Entretanto, a facilidade ou dificuldade em rever posicionamentos não depende apenas da formação acadêmica. Elementos como o meio social, o grau de acesso à informação e até traços de personalidade — como a abertura à experiência, descrita na psicologia — influenciam diretamente a maneira como lidamos com ideias novas. Em sociedades marcadas por desigualdades educacionais e bolhas informacionais, o conservadorismo pode ser reforçado por falta de alternativas cognitivas e por medo da exclusão social.

É importante, contudo, evitar maniqueísmos. Nem toda tradição é retrógrada, tampouco toda mudança é virtuosa. A sabedoria reside na capacidade de discernir o que merece ser preservado e o que deve ser superado. Nesse ponto, a educação crítica é a chave para construir pontes entre gerações, visões de mundo e experiências plurais. A dialética entre conservar e transformar pode ser fértil, desde que mediada pelo respeito, pela escuta ativa e pela disposição em aprender.

    Diante disso, propõe-se uma intervenção social baseada em três eixos: primeiro, a ampliação de políticas públicas de acesso à educação crítica e interdisciplinar desde o ensino básico, com incentivo à filosofia, sociologia e ciência política; segundo, campanhas de mídia que estimulem a valorização da mudança de opinião como virtude e não como fraqueza, buscando desconstruir estigmas sociais; e, por fim, a formação continuada de professores para lidar com o pluralismo de ideias em sala de aula. Tais medidas, dentro dos marcos constitucionais e democráticos, contribuem para uma sociedade mais consciente, plural e capaz de lidar com os antagonismos ideológicos com inteligência e empatia.

    Assim, compreender as raízes da resistência ou da flexibilidade ideológica é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos. Entre a âncora da tradição e o vento do conhecimento, é preciso ensinar a navegar — com bússola crítica e olhos abertos para a complexidade da existência.

 

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Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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