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20 de junho de 2025

Ao Amor Que Chegou Quando Desisti.



Procurei por ti, amor,
nas entrelinhas das canções,
nos goles de vinho que bebi sozinho,
nas esquinas do mundo, nas multidões,
em silêncios longos que gritavam por sentido.

Beijei bocas procurando tua essência.
Toquei corpos buscando tua presença.
Passei noites em claro escrevendo versos
que talvez um dia você lesse
mas você não vinha...

Fiz de olhares promessas,
de abraços, refúgios falsos.
Confundi paixão com permanência,
e me perdi em tantas tentativas
de reconhecer em alguém
aquilo que eu mesmo duvidava existir.

Até que deixei de procurar.
Desisti, não com tristeza,
mas com a paz de quem se rende
ao que não se fabrica.
E foi nesse exato instante que você chegou.

Chegou como quem não quer nada,
mas era tudo.
Me amou sem perguntas,
me escutou sem querer mudar meu tom,
me acolheu sem inventar um roteiro.

Você não me completou.
Me ampliou.
Foi mais que metade:
foi espelho,
foi espanto,
foi alívio.

Agora entendo:
o amor não vem quando a gente chama.
Vem quando a gente cala.
Ele não exige,
ele se apresenta.
E às vezes…
é no fim da estrada
que começa a caminhada certa.

Obrigado por ter vindo
quando eu já não te esperava.
Porque agora,
cada dia ao teu lado
é a poesia que um dia
eu sonhei escrever.




16 de junho de 2025

ENTRE AS RUÍNAS DO AMOR MODERNO, ou Um diálogo interior em forma de monólogo inquisidor - O que é romantismo?



O que é o romantismo?

    É flor? É vinho? É dor pintada com perfume? É o ato do homem que se inclina, oferecendo o coração em bandeja, esperando que a mulher o aceite como prêmio ou o rejeite como servo?

    Caminho hoje entre os homens e percebo que se construiu uma ideia — bela à primeira vista — mas envenenada na essência: a de que o homem deve ser o eterno provedor de afeto, o portador das flores, o escrevente das poesias, o doador de tudo, enquanto a mulher é o altar, o destino, o troféu.

    Pergunto: por que o amor verdadeiro necessitaria de encenação? Por que há de um se curvar para que o outro se sinta elevado? Se há amor, não deveria haver simetria?

    Vós vos dizeis modernos, mas viveis como cativos de uma fábula antiga. O homem, ensinado desde menino, aprende que deve conquistar. Que a mulher é fortaleza a ser vencida. Que seu valor está na capacidade de prová-lo, agradá-la, sustentá-la, idolatrá-la. E se assim não o fizer, é indigno, frio, insensível.

    Mas não há injustiça em tal crença? Não é este um papel servil disfarçado de cavalheirismo? Ora, se o romantismo exige do homem todo esforço, toda entrega, e à mulher toda exigência, então ele não é amor — é teatro. É contrato tácito onde um doa e o outro recebe.

    E que tragédia nasce disso! Homens frustrados, esvaziados, endeusando mulheres que os desprezam. Mulheres que, em sendo colocadas num pedestal, tornam-se inatingíveis, não por virtude, mas por conveniência. Assim, a deusa não ama, apenas é adorada. E o servo não é amado, apenas útil.

    Será esse o amor que promove a alma? Ou será prisão de ilusões, onde se troca liberdade por idealismo estéril?

    Interrogo ainda: será que o romantismo favorece a mulher? Ou será que também a aprisiona? Pois se ela é ensinada a ser desejada e não a desejar, a ser servida e não a servir, a ser conquistada e não a conquistar, então ela também não ama — apenas reina. E reinar sem reciprocidade é solidão coroada.

    Portanto, desconfiemos do romantismo como estrutura. Interroguemos seus fundamentos. Quem lucra com ele? Quem perde? Quem finge? Quem sofre?

    O amor deve ser encontro de iguais, não escada social, nem idolatria.

    Devemos destruir o pedestal, não para rebaixar a mulher, mas para que ambos caminhem lado a lado, e não um sobre os ombros do outro.

    Pois o que é mais belo: um amor sincero entre dois seres livres? Ou um ritual de dominação recíproca, travestido de afeto?

    Amai, sim. Mas amai com olhos abertos. O romantismo, quando se torna exigência e não escolha, é veneno com gosto de mel.

    E como sempre digo: conhece-te a ti mesmo, antes de oferecer teu coração como oferenda a quem talvez nem saiba o que é amor.

 



Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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