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30 de junho de 2025

O Fim Sempre Chega



Chega sem aviso, como quem parte calado,
sem deixar bilhete, sem aceno no portão.
O fim não pede licença, entra gelado,
traz nas mãos o gosto amargo da negação.

É triste ver amores que já foram céu
transformarem-se em ruínas, em poeira de memória.
Amizades viram sombras num papel,
linhas borradas no diário de uma história.

Há quem vá por escolha, há quem vá por covardia,
há quem suma na curva da mentira.
Uns traem, outros apenas esfriam por dia,
até que o silêncio inteiro os retira.

O pior não é o fim, mas o abandono lento,
a ausência que cresce sem um som,
o amor que antes era firmamento
e hoje nem sequer responde o tom.

A despedida dói mais quando é incerta,
quando o último olhar não teve nome.
É duro ver a porta ainda aberta
e saber que quem partiu já não te consome.

Intimidades viram armas em mãos frias,
segredos compartilhados viram punhais.
A confiança, antes cheia de alegrias,
hoje jaz em sepulcros emocionais.

Mas o fim... o fim sempre vem,
em cartas não escritas, em jantares sem brinde,
em corpos presentes mas olhos que não veem,
no "pra sempre" que se torna um "ainda bem que finda".

Porque tudo tem tempo, tem ciclo, tem chão,
e quem já foi casa pode virar tempestade.
Aceita-se a dor, abraça-se a solidão,
pois até na perda mora alguma verdade.

Que venham os finais, com sua foice fina,
com seus cortes que ensinam e ferem.
Ainda que o amor morra em esquina,
os que ficam, vivem. Mesmo quando perecem.



19 de junho de 2025

O Sarcasmo de DEUS, ou Ele contra si mesmo.



No princípio, DEUS cria tudo do nada,
Mas já sabia o fim — que piada.
Cria o homem com amor e primor,
Mas já planejava dilúvio e terror.

Cria Adão do barro com todo cuidado,
Depois o culpa por ser enganado.
Cria Eva da costela do coitado,
Mas pune ambos por terem pecado.

Proíbe o fruto que Ele mesmo plantou,
Sabendo que o homem cedo o provaria, show!
Coloca a serpente no meio do jardim,
Depois finge surpresa pelo que chega ao fim.

DEUS expulsa, DEUS amaldiçoa,
DEUS que tudo sabe, agora se magoa.
Cria o livre-arbítrio, mas com censura,
A primeira escolha gera censura.

Vê a Terra cheia de gente errada,
Então manda um dilúvio, obra abençoada.
Mata criança, velhinho e mulher,
Porque “justiça divina” tudo requer.

Depois promete nunca mais se irritar,
Mas já planeja cidades arrasar.
Escolhe um povo, Israel abençoado,
Mas vive punindo esse rebanho rebelado.

Pede sacrifício, sangue e fumaça,
Faz da adoração um rito de ameaça.
Manda matar povos por não crer,
Porque DEUS é amor... só pra entender.

Moisés sobe ao monte, vê a luz,
Recebe as tábuas, mas DEUS reluz.
Depois quebra tudo por idolatria,
Como se DEUS não visse aquela orgia.

Os profetas gritam: "obedece, Israel!",
Mas DEUS já sabia que daria réu.
Promete Messias, paz e redenção,
Mas manda Seu Filho para a execução.

DEUS, o eterno, nasce bebê,
Numa estrebaria, sem nada a oferecer.
Filho de virgem, claro, por sinal,
Já começa quebrando toda lógica natural.

Cresce em sabedoria, embora seja DEUS,
Aprende carpintaria, constrói alguns véus.
Jejua no deserto, tenta o tentador,
Mas sendo DEUS, qual o valor?

Anda sobre as águas, cura o cego,
Multiplica pão, faz o grande ego.
Mas chora, sofre e ora em aflição,
Pedindo a DEUS outra solução.

Ora a Si mesmo? Implora clemência?
Sabe o plano, mas sofre com urgência.
Sangra suor, lágrimas de dor,
Mesmo sendo DEUS e o puro amor.

É traído por Judas, amigo e irmão,
Cumprindo profecia, mas com frustração.
É preso, julgado por um tribunal,
Criado por Ele, que coisa brutal.

É cuspido, açoitado e zombado,
Por gente que DEUS mesmo havia moldado.
Pendurado num madeiro em horror,
Clama: “DEUS meu!” — drama de autor.

DEUS abandona DEUS no alto da cruz,
Mas continua sendo um com DEUS, que nos conduz.
Morre, desce ao Hades em missão secreta,
Prega aos mortos — agenda completa.

Ressuscita a Si mesmo no terceiro dia,
Vence a morte com maestria.
Sobe aos céus, senta ao lado de DEUS,
Que é Ele mesmo — confuso, não é? Pois é.

Promete voltar num cavalo de glória,
Mas demora milênios pra mudar a história.
Enquanto isso, salva quem crê,
Mas condena quem, por lógica, duvidar de ver.

DEUS que te ama, mas te lança no fogo,
Caso questione ou saia do jogo.
Diz que perdoa, mas com cláusula extra,
Aceite o Filho, senão já era a festa.

Deus-Justiça, DEUS-Misericórdia, DEUS-Paixão,
Três em um, uma só salvação.
Advogado, juiz e carrasco no final,
Amor eterno com cláusula condicional.

Proíbe a dúvida, prega o temor,
Enquanto exige que creiamos por amor.
Não se prova, mas exige fé,
Senão, o inferno é seu café.

E assim segue o ciclo da revelação:
Criação, queda, salvação e punição.
Um DEUS que tudo é, mas tudo esconde,
E no fim, só compreende quem responde.


Mas diga, leitor, sem medo ou véu:
Como pode um DEUS ser 
e ter todas as características daquilo que não existe no céu?



16 de junho de 2025

Tradição e Conhecimento: As Forças em Disputa pela Consciência Humana



    Ao longo da história, o ser humano revelou-se um ser em constante tensão entre a estabilidade do conhecido e o risco do novo. Em meio a essa dualidade, emerge a indagação: por que alguns mudam de ideia com facilidade, enquanto outros permanecem fiéis às mesmas convicções ao longo da vida? A resposta repousa na complexa interação entre heranças culturais, estruturas familiares, acesso ao conhecimento e disposição à reflexão crítica. Em um mundo em acelerada transformação, compreender os motivos dessa divergência torna-se essencial para promover o diálogo e a evolução coletiva.

    De um lado, encontra-se o conservadorismo ideológico, frequentemente sustentado por tradições seculares e estruturas familiares rígidas. Esse tipo de pensamento é marcado pela valorização da permanência, do respeito às hierarquias e da crença de que o passado encerra verdades suficientes para guiar o presente e o futuro. Não raramente, as convicções herdadas são mantidas como escudos contra o caos de um mundo mutável. Tal postura, apesar de oferecer segurança identitária, pode gerar resistência à mudança, intolerância a ideias divergentes e um empobrecimento do debate público.

    Por outro lado, o avanço do conhecimento científico e o estímulo ao pensamento crítico proporcionam a indivíduos e sociedades a oportunidade de revisar crenças, ajustar opiniões e ampliar horizontes. A educação, nesse sentido, desempenha papel crucial. Como já afirmava o filósofo francês Michel Foucault, o saber é uma forma de poder — não no sentido autoritário, mas na capacidade de libertar o sujeito das amarras do dogmatismo. Aqueles que desenvolvem o hábito de estudar, questionar e analisar percebem que mudar de ideia não é sinal de fraqueza, mas de crescimento intelectual e maturidade emocional.

    Entretanto, a facilidade ou dificuldade em rever posicionamentos não depende apenas da formação acadêmica. Elementos como o meio social, o grau de acesso à informação e até traços de personalidade — como a abertura à experiência, descrita na psicologia — influenciam diretamente a maneira como lidamos com ideias novas. Em sociedades marcadas por desigualdades educacionais e bolhas informacionais, o conservadorismo pode ser reforçado por falta de alternativas cognitivas e por medo da exclusão social.

É importante, contudo, evitar maniqueísmos. Nem toda tradição é retrógrada, tampouco toda mudança é virtuosa. A sabedoria reside na capacidade de discernir o que merece ser preservado e o que deve ser superado. Nesse ponto, a educação crítica é a chave para construir pontes entre gerações, visões de mundo e experiências plurais. A dialética entre conservar e transformar pode ser fértil, desde que mediada pelo respeito, pela escuta ativa e pela disposição em aprender.

    Diante disso, propõe-se uma intervenção social baseada em três eixos: primeiro, a ampliação de políticas públicas de acesso à educação crítica e interdisciplinar desde o ensino básico, com incentivo à filosofia, sociologia e ciência política; segundo, campanhas de mídia que estimulem a valorização da mudança de opinião como virtude e não como fraqueza, buscando desconstruir estigmas sociais; e, por fim, a formação continuada de professores para lidar com o pluralismo de ideias em sala de aula. Tais medidas, dentro dos marcos constitucionais e democráticos, contribuem para uma sociedade mais consciente, plural e capaz de lidar com os antagonismos ideológicos com inteligência e empatia.

    Assim, compreender as raízes da resistência ou da flexibilidade ideológica é essencial para enfrentar os desafios contemporâneos. Entre a âncora da tradição e o vento do conhecimento, é preciso ensinar a navegar — com bússola crítica e olhos abertos para a complexidade da existência.

 

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Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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