Na curva tímida do ombro,
um convite sussurrado em carne.
Não fala, mas incendia.
Seu silêncio é um gemido suspenso no ar.
E eu, homem feito de vontades,
tremo como papel molhado pela chuva do seu olhar.
Ela passa, e o mundo desorganiza.
O botão da blusa, inocente, conspira.
A saia, indecente, flerta com o vento.
E eu, tolo, me torno poeta
mas um poeta que escreve com a língua
na geografia febril da sua pele.
Seu andar é pecado em movimento,
milagre pagão que me ajoelha.
Ela não toca, mas possui.
Não se oferece, mas se impõe.
E o desejo, esse cão faminto,
rosna dentro do meu terno.
Debaixo da roupa, mora o inferno.
E eu, cristão de meia fé,
renego qualquer salvação
por um instante entre seus lábios carmesim,
onde o amor é fome,
e o gozo tem gosto de fim.
Ela é vício,
verso obsceno que se esconde
nas entrelinhas de um decote.
É mulher, mas é também feitiço,
palavra proibida que se escreve no escuro,
com dedos, dentes e sussurros.
E quando finalmente me engole no seu abismo,
não é só carne que se consome.
É alma. É culpa. É glória.
É um poema suado
onde rima e suor se confundem,
e o prazer, meu caro, é poesia crua.