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15 de maio de 2025

A minha carta de despedida.

  


 

     Um abismo imenso está à minha frente, um vazio de ideias, de fé, de objetivos, de esperança e principalmente de incertezas. Aliás, a única certeza é que o fim chegará. Mas resta saber se é o fim de final ou fim de finalidade, de que tudo foi cumprido.

    Confesso que durante o processo houveram muitos problemas, inúmeros tropeços e lágrimas, e, apesar de tudo isso, também houveram momentos incríveis, prazer e alegria. Pude experimentar muita coisa boa na vida desde o nascimento até o momento. Ainda não sei o legado que vai ficar, mas deixo escrito lembranças, pensamentos, poesias, sentimentos e um pouco do que pude viver descrito em palavras. Que fique registrado a minha passagem.

    Não foi uma existência fácil, nem pretensiosamente exemplar. Mas foi real. De carne, osso e contradições. Andei por caminhos tortuosos, bebi de fontes impuras, amei com desespero e também me calei quando devia gritar.

    Fui incompreendido por muitos, e também não me esforcei tanto para ser entendido. Talvez porque eu mesmo nunca tenha me entendido por completo.

    Carreguei pesos que não eram meus e deixei cair fardos que só eu poderia sustentar.

    Sorri por fora enquanto, por dentro, erguia ruínas. Gritei para o vazio inúmeras vezes — e o silêncio foi o único a responder.

    Mas também me reinventei quando tudo parecia acabado. Levantei do chão mesmo quando ninguém acreditava. Descobri a beleza dos pequenos gestos, das manhãs silenciosas, dos olhares cúmplices. Me perdi para me reencontrar, e percebi que às vezes a dor é uma professora mais eficiente que a paz.

    As amizades vieram e foram, como as estações — algumas floresceram, outras murcharam sem aviso. O amor... ah, o amor me visitou com intensidade. Deixou marcas, feridas, mas também curas.

     A fé, essa instável companheira, ora se escondia, ora me empurrava em direção à luz. Não fui santo, mas também não fui vilão. Fui humano. Limitado. Ambíguo. Vivo.

     E se hoje encaro o abismo, não o faço com medo, mas com curiosidade. Porque talvez o fim não seja queda, mas voo. Talvez a escuridão que vejo seja apenas o início de uma nova aurora. E mesmo que eu não esteja aqui para ver o sol nascer novamente, que minhas palavras sejam os raios que anunciam um novo dia para quem vier depois. Que minhas falhas sirvam de advertência e minhas conquistas, de inspiração.

     Não peço estátuas, nem homenagens. Peço apenas que, ao lerem o que escrevi, sintam que ali bateu um coração — imperfeito, sim, mas pulsante de verdade. E que no meio de tanta dúvida, uma única convicção brilhe como estrela solitária no céu da noite:

     A vida, mesmo em sua confusão e caos, valeu a pena ser vivida.




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