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30 de maio de 2025

A crise moral, a crise de ética e a polaridade política no Brasil



“A verdadeira crise não é econômica, nem política.

 É moral.” — Bertolt Brecht


    No cenário contemporâneo brasileiro, assiste-se a um profundo colapso ético que transcende ideologias e coloca em xeque os pilares da democracia. A polarização política não apenas radicalizou o discurso público, mas também revelou um país dividido entre escândalos, idolatrias cegas e uma institucionalidade fragilizada. De um lado, o lulismo carrega o peso de condenações judiciais anuladas por magistrados indicados pelo próprio grupo político. Do outro, o bolsonarismo, impregnado de retórica agressiva e ofensiva, ora se apresenta como vítima de perseguição, ora flerta com ideias antidemocráticas. Em meio a esse caos, o chamado “centrão” age como catalisador do oportunismo, loteando o poder em benefício próprio. Resta, portanto, perguntar: para onde caminha o Brasil?

    A crise moral que atravessa o país manifesta-se na banalização da corrupção e na naturalização de desvios éticos em nome da governabilidade. Quando figuras públicas se tornam símbolos de impunidade ou mártires fabricados por narrativas ideológicas, a população é induzida à cegueira crítica. A anulação de processos de Lula por questões formais, embora legalmente defensável, foi interpretada por muitos como uma manobra político-jurídica promovida por ministros indicados por governos aliados — o que enfraquece a confiança no Judiciário. Simultaneamente, o ex-presidente Bolsonaro deslegitima o sistema ao invocar perseguição e conclamar por intervenção externa, gesto que agride a soberania nacional e tensiona ainda mais as já combalidas relações entre os Poderes.

    Essa polarização cria um ambiente binário e irracional, onde não há espaço para ponderação. O “nós contra eles” substituiu o debate público, e qualquer tentativa de moderação é ridicularizada como fraqueza ou traição. O centro político, que deveria representar equilíbrio, tornou-se um reduto de barganhas, fisiologismo e chantagem institucional. Deputados e senadores, muitos envolvidos em escândalos, trocam votos por emendas e cargos, esvaziando o papel do Legislativo como formulador de políticas públicas. O resultado é um Congresso que legisla em causa própria, enquanto o país padece por falta de projetos estruturantes.

    A ausência de líderes éticos, somada à falência do debate racional, compromete o futuro do Brasil. Jovens crescem sem referências políticas dignas, cidadãos desconfiam das instituições e a própria democracia corre risco de erosão. Quando os extremos se retroalimentam pelo ódio mútuo, e o centro político não inspira confiança, abre-se caminho para soluções autoritárias ou para o cinismo generalizado, onde nada mais importa além do próprio umbigo.

    Portanto, é urgente reconstruir o tecido moral da nação. Isso requer uma profunda reforma política, com regras claras de transparência, limites ao poder do Executivo sobre o Judiciário e mecanismos eficazes de fiscalização dos parlamentares. Mas mais do que leis, o Brasil precisa de uma nova cultura cívica, que valorize o bem comum, a educação crítica e a ética na vida pública. Sem isso, continuaremos reféns de falsos heróis e mercadores da fé política — e o amanhã seguirá sendo apenas uma repetição dos mesmos erros.





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