Tudo nasce já marcado pela finitude. A maçã na fruteira escurece, o perfume se evapora, o carro perde o brilho. Cada objeto, por mais caro ou raro, carrega em si o destino do desgaste. E não somos diferentes — cada célula nossa grita que está morrendo, mesmo enquanto sorri. Vivemos numa vitrine de prazos, colecionando memórias com cheiro de mofo, segurando promessas que se esfarelam no tempo como papel velho ao sol.
As amizades também têm vencimento. Algumas, embaladas com laços de riso e cumplicidade, desaparecem como fumaça, sem briga, sem razão — apenas silêncio. Outras explodem em palavras ácidas e desentendimentos irreparáveis. E o amor, esse que juram eterno, esse que arde no começo como fogo em mato seco, também curva a cabeça diante do tempo. Ele esfria, cansa, se dilui no hábito, morre nos detalhes esquecidos. Beijos deixam de ter gosto, toques perdem a intenção. E o que era promessa vira lembrança, quando não vira mágoa.
A própria vida é um fio em constante corte. Crescemos como se fôssemos infinitos, mas cada aniversário é uma pétala a menos no buquê da existência. Os pais envelhecem, os filhos crescem e se vão, e o corpo cobra os juros dos excessos. Tudo o que é hoje, não será amanhã. A casa vira ruína, o nome é esquecido, as fotos perdem cor. E mesmo os grandes impérios viram poeira, como sussurros apagados do vento.
No fim, nada sobra. Nem o eco dos passos, nem os gritos de amor, nem as dores que um dia foram abismos. Tudo se desfaz. Tudo acaba. Mas há beleza nisso — na dança frágil do instante. A eternidade talvez esteja apenas no agora. No olhar que dura segundos, na risada que ecoa antes de sumir, no toque breve que acende o mundo e depois desaparece. O que é eterno? Nada. E, talvez por isso, tudo valha a pena.
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