Pois o sentido escapa por entre os dedos como areia em punho fechado,
e cada tentativa de capturá-lo o torna ainda mais fugidio, mais sutil, mais etéreo.
Talvez o propósito não esteja no destino, mas no caminho —
nas pedras que machucam os pés descalços,
nas flores que brotam entre os escombros da alma.
Quem disse que amar exige retorno?
Talvez o verdadeiro amor seja aquele que arde em silêncio,
que se doa como o sol que aquece mesmo as janelas fechadas,
sem saber se alguém ali dentro precisa de calor.
Talvez o sacrifício mais puro seja aquele que ninguém vê,
e a grandeza maior resida na renúncia que não recebe medalhas.
A vida, por vezes, parece um palco de ausências,
onde os atores não sabem ao certo qual papel desempenham.
E ainda assim, seguem — tropeçando, tentando, errando, recomeçando.
Sofrer em solidão, sim, mesmo rodeado de vozes.
Mas quem nunca?
A multidão não cura a ausência de um olhar verdadeiro.
E talvez... talvez o propósito seja continuar.
Continuar mesmo quando tudo diz "pare".
Continuar sorrindo com os olhos molhados,
continuar plantando mesmo que a colheita não seja sua.
Continuar escrevendo cartas que ninguém lerá,
cantando canções para ouvidos que jamais ouvirão.
Porque talvez viver seja isso:
um ato de rebeldia contra o vazio,
um grito sutil de quem, mesmo perdido, insiste em caminhar.
Não por glória, não por recompensa,
mas porque há algo no coração humano que se recusa a apagar a chama.
A chama de ser.
De simplesmente ser.
Com toda a dor, com toda a beleza,
com toda a brevidade de um sopro,
com toda a eternidade que cabe num gesto de ternura.
Talvez o grande propósito da vida
seja tocar uma outra alma,
mesmo que por um segundo.
E nesse toque,
refletir, ainda que por breves instantes,
a centelha do divino que nos habita.