As sombras que me assombram são pesadelos sem peso na realidade. Meus pensamentos são toneladas de conjecturas e subjetividades. Por vezes tenho argumentos densos e momentos rasos para exemplificar o que sinto, é como estar sóbrio e sentir mergulhado em um rio de absinto.
As certezas que construo desmoronam como castelos erguidos sobre nuvens. Minha mente, inquieta e incansável, desenha cenários onde sou o arquiteto e o invasor, o criador e o sabotador. O que penso me guia, mas o que sinto me trai, e entre a razão e o delírio, danço como um fantasma que não sabe se pertence ao mundo dos vivos ou dos sonhos.
Às vezes, carrego verdades que brilham como constelações perdidas em um céu sem noite. São fragmentos de lucidez que cintilam, mas nunca iluminam o suficiente. No instante em que tento tocá-los, eles se dissipam como o vapor de um copo esquecido ao lado de uma janela aberta. Então me pergunto: sou feito de matéria ou de ilusões?
Os silêncios que me habitam são mais estrondosos que qualquer tempestade. Há neles um peso invisível, um significado oculto que nem mesmo a lógica mais afiada consegue decifrar. Talvez seja essa a natureza do mistério, existir não para ser compreendido, mas para ser sentido, como um vento frio que arrepia a pele sem jamais ser visto.
E se as palavras que digo não forem realmente minhas? E se elas forem ecos de um passado que insiste em sussurrar através de mim? Há momentos em que minha voz me soa distante, como se eu fosse apenas o narrador de uma história que nunca escrevi. Quem, então, segura a pena que desenha os contornos da minha existência?
As sombras que me assombram já não sei se são minhas ou herdadas de um tempo antes de mim. Talvez sejamos apenas reflexos de medos antigos, perpetuados por gerações que nunca tiveram coragem de nomeá-los. O desconhecido sempre tem mais peso do que o que podemos tocar, e ainda assim, seguimos tateando o vazio como se nele houvesse algo a ser descoberto.
E há. Sei que há. Há um segredo escondido na dobra dos dias, um código que se revela apenas aos que têm coragem de questionar. Mas quanto mais pergunto, mais percebo que a resposta escapa, como se a verdade fosse um peixe ágil nadando em águas cada vez mais profundas. O que há no fundo desse oceano de incertezas?
Minha mente é um labirinto onde cada saída leva a uma nova entrada. Dou voltas sobre mim mesmo, tentando escapar de algo que talvez seja apenas um reflexo distorcido no espelho da minha própria consciência. Mas e se, ao encontrar a saída, eu perceber que o mundo lá fora não passa de outro labirinto, ainda maior?
Não há muros que me prendam além daqueles que construo sem perceber. São paredes invisíveis, erguidas com tijolos de medo, cimento de dúvida, vigas de um passado que insisto em carregar. E no entanto, sei que basta um pensamento para que tudo desmorone. Mas por que, então, hesito em derrubar essas barreiras?
Talvez porque, no fundo, eu tenha medo de descobrir que não há nada do outro lado. Que a liberdade absoluta seja apenas o vazio mais absoluto. Que a segurança das minhas prisões seja preferível à vertigem do infinito. Ou talvez, porque a resposta esteja justamente na queda, na coragem de saltar sem saber se há um chão para me receber.
E se tudo isso não passar de um sonho? Se cada palavra que escrevo for apenas um eco de algo que nunca existiu? Se o tempo for apenas um truque e a realidade uma ilusão habilmente encenada por forças que sequer ousamos nomear?
Afinal, se a resposta não existe, quem fez a pergunta?
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