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26 de maio de 2025

Qual o propósito da vida?





Qual é, então, o grande propósito da vida? Talvez seja justamente não tê-lo com exatidão.

Pois o sentido escapa por entre os dedos como areia em punho fechado,
e cada tentativa de capturá-lo o torna ainda mais fugidio, mais sutil, mais etéreo.
Talvez o propósito não esteja no destino, mas no caminho —
nas pedras que machucam os pés descalços,
nas flores que brotam entre os escombros da alma.

Quem disse que amar exige retorno?
Talvez o verdadeiro amor seja aquele que arde em silêncio,
que se doa como o sol que aquece mesmo as janelas fechadas,
sem saber se alguém ali dentro precisa de calor.
Talvez o sacrifício mais puro seja aquele que ninguém vê,
e a grandeza maior resida na renúncia que não recebe medalhas.

A vida, por vezes, parece um palco de ausências,
onde os atores não sabem ao certo qual papel desempenham.
E ainda assim, seguem — tropeçando, tentando, errando, recomeçando.
Sofrer em solidão, sim, mesmo rodeado de vozes.
Mas quem nunca?
A multidão não cura a ausência de um olhar verdadeiro.

E talvez... talvez o propósito seja continuar.
Continuar mesmo quando tudo diz "pare".
Continuar sorrindo com os olhos molhados,
continuar plantando mesmo que a colheita não seja sua.
Continuar escrevendo cartas que ninguém lerá,
cantando canções para ouvidos que jamais ouvirão.

Porque talvez viver seja isso:
um ato de rebeldia contra o vazio,
um grito sutil de quem, mesmo perdido, insiste em caminhar.
Não por glória, não por recompensa,
mas porque há algo no coração humano que se recusa a apagar a chama.
A chama de ser.
De simplesmente ser.
Com toda a dor, com toda a beleza,
com toda a brevidade de um sopro,
com toda a eternidade que cabe num gesto de ternura.

Talvez o grande propósito da vida
seja tocar uma outra alma,
mesmo que por um segundo.
E nesse toque,
refletir, ainda que por breves instantes,
a centelha do divino que nos habita.




22 de maio de 2025

O Peso de Ser Inteiro num Mundo Quebrado



Não importa o quanto você se doa — haverá quem diga que foi pouco.

Não importa o quanto você sorri — haverá quem deseje sua tristeza.
O mundo não tem justiça para quem sente demais, para quem oferece a alma sem filtro,
para quem vive com o coração exposto como bandeira em dia de tempestade.

Ontem, os olhos que brilhavam por você, hoje desviam como se fossem cegos.
As mãos que seguravam as suas com força, hoje empurram sua ausência para longe,
e os lábios que murmuravam promessas, hoje selam silêncios frios e definitivos.

Mas veja — há algo de divino na virada do inesperado.
Da sombra brotam flores, do esquecimento nascem encontros.
É quando você pensa estar só, que a vida sussurra:
“Ainda há amor, só que em outras direções.”

Quem te ignorava passa a te escutar com reverência.
Quem te julgava descobre que também carrega falhas.
E os que se foram… ah, esses jamais voltam do mesmo jeito.
São apenas ecos do que um dia fingiram ser.

A dor tem o dom de lavar a alma.
Cada lágrima é uma chuva que limpa a estrada.
Cada mágoa é tijolo no templo da sua força.

A vida te quebra nos mesmos pontos onde deseja te tornar forte.
E os cacos que sobram? São o mosaico da sua reinvenção.

Você não é amado por aquilo que mostra,
mas por aquilo que vibra quando ninguém está olhando.
E você não é odiado por suas falhas,
mas por fazer brilhar onde outros se apagam.

O paradoxo da existência é cruel:
os aplausos e os apedrejamentos vêm da mesma plateia.
Muda o figurino, muda o enredo,
mas os olhos que te julgam são os mesmos que um dia te desejaram vitória.

Não lamente o que perdeu.
Perdas são filtros da verdade.
Só fica quem reconhece sua essência sem precisar de legenda.

Continue sendo quem é — com alma inteira,
mesmo que sua luz incomode olhos acostumados com a penumbra.

Pois, no fim, os que te amam por quem você é
valem infinitamente mais do que os que te amaram pelo que imaginaram.

A existência não pede explicações.
Ela apenas revela quem é quem,
no tempo exato em que você aprende a ver.



19 de maio de 2025

Tudo Tem um Prazo de Validade: Dos Objetos Até os Amores — O Que É Eterno?



    Tudo nasce já marcado pela finitude. A maçã na fruteira escurece, o perfume se evapora, o carro perde o brilho. Cada objeto, por mais caro ou raro, carrega em si o destino do desgaste. E não somos diferentes — cada célula nossa grita que está morrendo, mesmo enquanto sorri. Vivemos numa vitrine de prazos, colecionando memórias com cheiro de mofo, segurando promessas que se esfarelam no tempo como papel velho ao sol.

    As amizades também têm vencimento. Algumas, embaladas com laços de riso e cumplicidade, desaparecem como fumaça, sem briga, sem razão — apenas silêncio. Outras explodem em palavras ácidas e desentendimentos irreparáveis. E o amor, esse que juram eterno, esse que arde no começo como fogo em mato seco, também curva a cabeça diante do tempo. Ele esfria, cansa, se dilui no hábito, morre nos detalhes esquecidos. Beijos deixam de ter gosto, toques perdem a intenção. E o que era promessa vira lembrança, quando não vira mágoa.

    A própria vida é um fio em constante corte. Crescemos como se fôssemos infinitos, mas cada aniversário é uma pétala a menos no buquê da existência. Os pais envelhecem, os filhos crescem e se vão, e o corpo cobra os juros dos excessos. Tudo o que é hoje, não será amanhã. A casa vira ruína, o nome é esquecido, as fotos perdem cor. E mesmo os grandes impérios viram poeira, como sussurros apagados do vento.

    No fim, nada sobra. Nem o eco dos passos, nem os gritos de amor, nem as dores que um dia foram abismos. Tudo se desfaz. Tudo acaba. Mas há beleza nisso — na dança frágil do instante. A eternidade talvez esteja apenas no agora. No olhar que dura segundos, na risada que ecoa antes de sumir, no toque breve que acende o mundo e depois desaparece. O que é eterno? Nada. E, talvez por isso, tudo valha a pena.




15 de maio de 2025

A minha carta de despedida.

  


 

     Um abismo imenso está à minha frente, um vazio de ideias, de fé, de objetivos, de esperança e principalmente de incertezas. Aliás, a única certeza é que o fim chegará. Mas resta saber se é o fim de final ou fim de finalidade, de que tudo foi cumprido.

    Confesso que durante o processo houveram muitos problemas, inúmeros tropeços e lágrimas, e, apesar de tudo isso, também houveram momentos incríveis, prazer e alegria. Pude experimentar muita coisa boa na vida desde o nascimento até o momento. Ainda não sei o legado que vai ficar, mas deixo escrito lembranças, pensamentos, poesias, sentimentos e um pouco do que pude viver descrito em palavras. Que fique registrado a minha passagem.

    Não foi uma existência fácil, nem pretensiosamente exemplar. Mas foi real. De carne, osso e contradições. Andei por caminhos tortuosos, bebi de fontes impuras, amei com desespero e também me calei quando devia gritar.

    Fui incompreendido por muitos, e também não me esforcei tanto para ser entendido. Talvez porque eu mesmo nunca tenha me entendido por completo.

    Carreguei pesos que não eram meus e deixei cair fardos que só eu poderia sustentar.

    Sorri por fora enquanto, por dentro, erguia ruínas. Gritei para o vazio inúmeras vezes — e o silêncio foi o único a responder.

    Mas também me reinventei quando tudo parecia acabado. Levantei do chão mesmo quando ninguém acreditava. Descobri a beleza dos pequenos gestos, das manhãs silenciosas, dos olhares cúmplices. Me perdi para me reencontrar, e percebi que às vezes a dor é uma professora mais eficiente que a paz.

    As amizades vieram e foram, como as estações — algumas floresceram, outras murcharam sem aviso. O amor... ah, o amor me visitou com intensidade. Deixou marcas, feridas, mas também curas.

     A fé, essa instável companheira, ora se escondia, ora me empurrava em direção à luz. Não fui santo, mas também não fui vilão. Fui humano. Limitado. Ambíguo. Vivo.

     E se hoje encaro o abismo, não o faço com medo, mas com curiosidade. Porque talvez o fim não seja queda, mas voo. Talvez a escuridão que vejo seja apenas o início de uma nova aurora. E mesmo que eu não esteja aqui para ver o sol nascer novamente, que minhas palavras sejam os raios que anunciam um novo dia para quem vier depois. Que minhas falhas sirvam de advertência e minhas conquistas, de inspiração.

     Não peço estátuas, nem homenagens. Peço apenas que, ao lerem o que escrevi, sintam que ali bateu um coração — imperfeito, sim, mas pulsante de verdade. E que no meio de tanta dúvida, uma única convicção brilhe como estrela solitária no céu da noite:

     A vida, mesmo em sua confusão e caos, valeu a pena ser vivida.




5 de maio de 2025

A dor de um homem que encontrou a liberdade e a solitude no vazio que as pessoas buscam e não encontram, ou no fim, pode ser tudo o que preciso.


 

E tudo se desfaz diante dos meus olhos;

A fé, a esperança e o amor!

A religião se revelou demagoga e vazia,

A política se mostrou dominadora e ineficaz,

As pessoas que eu amava e confiava me traíram.

 

Sobraram apenas os escombros da crença,

As ruínas frias do que um dia foi abrigo.

As promessas viraram cinzas ao vento,

E o silêncio agora grita mais alto que qualquer clamor.

 

A alma antes cheia de luz agora vagueia nas sombras,

Procurando sentido entre cacos de sonhos partidos.

Cada sorriso que recebi virou máscara,

Cada abraço um disfarce para a punhalada.

 

A esperança? Um quadro desbotado na parede da memória.

O amor? Uma lenda contada por tolos aos seus filhos.

E a fé? Um grito que ecoa num céu surdo e indiferente.

 

Tudo que restou foi a verdade nua e cruel:

O mundo não é justo. Nunca foi.

A justiça é um conceito, não uma prática.

A bondade é exceção, não regra.

E o homem esse ser civilizado é só um lobo bem vestido.

 

Mas no caos encontrei algo mais puro:

A liberdade de não crer, de não esperar,

De não me curvar diante de deuses, líderes ou afetos vazios.

Ergui-me sobre os cacos, sangrando, mas desperto.

Não tenho certezas, mas tenho olhos abertos.

Não tenho fé, mas tenho coragem.

Não tenho amor, mas tenho lucidez.

 

E isso, no fim, pode ser tudo o que preciso.




25 de março de 2025

O Assombro da Vida



















O assombro é chama que dança no vento,
Um rastro de luz no olhar desatento.
É a brisa que embala o peito cansado,
O riso que escapa num dia encantado.

É ver no infinito um traço divino,
Sentir que há vida no mais pequenino.
Um grão de areia, um raio de sol,
O eco das ondas num canto sem dó.

É ter nos olhos a sede do novo,
Sorrir para o tempo sem medo do jogo.
É ouvir no silêncio a doce canção
Que vibra nas cordas do próprio coração.

O espanto se esconde nas folhas caídas,
Nos sonhos que brotam das horas vividas.
Na dor que ensina, no amor que consola,
Na alma que dança ao toque da aurora.

É tudo mistério, é tudo certeza,
É ver na poeira os traços da realeza.
É olhar para o alto e ver no azul
O nome do Eterno bordado no sul.

A vida é um quadro que nunca se encerra,
Mistura de cores, de céu e de terra.
Caminho sem mapa, um voo sem chão,
Destino que pulsa em cada estação.

Se o assombro se apaga, se fecha a visão,
O mundo se torna um vão sem razão.
Mas quem se permite sentir e viver,
Descobre no espanto o dom de nascer.



21 de março de 2025

Soneto do tempo e da razão, ou apenas MATURIDADE.



No jogo do relógio o tempo ensina,

Escravo outrora agora sou senhor.

Da infância à glória a estrada é divina,

Cada ferida se tornou valor.

Maturidade é chama que ilumina,

Refina a mente, afasta o torpor.

A inteligência é seta que fulmina,

E a compreensão abrigo contra a dor.

No espelho vejo um rosto transformado,

Cicatrizado, firme, resoluto,

Pelo saber que o tempo me há dado.

Auto-conhecimento é um atributo,

Que faz do velho jovem renovado,

E torna o sábio em rei do absoluto.

 

 



18 de março de 2025

O Espelho das Palavras: O Que Dizemos Reflete Quem Somos

        



    Nossas palavras são espelhos. Sempre que falamos sobre alguém ou algo, revelamos mais sobre nós mesmos do que imaginamos. Cada opinião emitida, cada julgamento feito, cada crítica proferida carrega traços da nossa visão de mundo, nossas dores e nossas experiências.

    Quando apontamos as falhas dos outros, muitas vezes projetamos nossos próprios medos e inseguranças. O incômodo que sentimos em determinadas atitudes alheias pode ser um reflexo de algo que não resolvemos dentro de nós. Talvez aquilo que condenamos seja justamente um traço que, consciente ou inconscientemente, também carregamos.

        As reclamações constantes também dizem muito sobre o que nos falta. Sempre que nos irritamos com uma situação, estamos revelando nossas expectativas frustradas, nossas necessidades não atendidas, nossos desejos ocultos. A maneira como reagimos ao que está ao nosso redor é um retrato da nossa essência e das nossas batalhas internas.

        Observar essa dinâmica pode ser transformador. Ao invés de apenas apontar, podemos questionar: por que isso me afeta tanto? O que isso diz sobre mim? Assim, o que antes era um motivo de descontentamento pode se tornar uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento. Afinal, quando compreendemos a nós mesmos, nos tornamos mais leves, mais sábios e mais generosos com os outros.

        Para melhorar nossas atitudes em relação ao outro, é essencial praticar a empatia e a autorreflexão. Antes de julgar, podemos tentar nos colocar no lugar da outra pessoa, compreender suas experiências e considerar os desafios que ela pode estar enfrentando. Isso nos ajuda a cultivar mais paciência e compaixão.

        Além disso, desenvolver a inteligência emocional é fundamental. Observar nossas reações e identificar padrões de comportamento nos permite agir de forma mais consciente e equilibrada. Praticar o silêncio em momentos de impulsividade também pode evitar palavras que mais tarde nos arrependamos de ter dito.

        Outro passo importante é focar no positivo. Em vez de buscar falhas nos outros, podemos treinar nossa mente para reconhecer e valorizar suas qualidades. Pequenos gestos de gratidão e reconhecimento podem transformar nossas relações e tornar o ambiente ao nosso redor mais leve e harmonioso.

    Por fim, devemos lembrar que a mudança começa dentro de nós. Quando assumimos a responsabilidade por nossas emoções e atitudes, nos tornamos pessoas melhores e inspiramos os outros a também evoluírem. Assim, construímos relações mais saudáveis e um mundo mais acolhedor.





12 de março de 2025

A cada passo uma incerteza, um mistério e um tiro ao destino rumo ao fim.


Mas quem pode dizer onde termina o caminho,

se os pés seguem, teimosos, sobre a névoa dos dias?

O tempo sussurra verdades que se dobram ao vento,

e a cada curva, um abismo ou um voo — quem saberá?

 

Os olhos buscam faróis, mas encontram sombras,

as mãos tateiam o vácuo, mas encontram histórias.

E o coração, esse louco, pulsa no compasso do imprevisível,

ora refém da esperança, ora escravo do medo.

 

Se há resposta, ela dança além do alcance,

rindo de nossas certezas frágeis como vidro.

E assim seguimos, não por saber,

mas por não poder parar.



5 de março de 2025

O que há de pior no ser humano, ou a desumanidade.


De dentro do ser humano sai tudo aquilo que não presta:

Fezes, hipocrisia, suor, mentira, pus, inveja, catarro, ódio, ingratidão, cera de ouvido, orgulho, caspa, doenças, mau hálito, crueldade, remela, egoísmo, gases intestinais, desonestidade, secreção prostática, narcisismo, chulé, ganância, vomito, vitimismo, pedras na vesícula, arrogância, urina, rancor, cecê, desprezo, cravos e espinhas, manipulação, casca de ferida, preconceito, menstruação, fofoca, porra, covardia, lágrimas e a pior de todas “desumanidade”.

 



21 de fevereiro de 2025

Entre a Realidade e o Delírio, ou A Ilusão do Último Pensamento.

        


         As sombras que me assombram são pesadelos sem peso na realidade. Meus pensamentos são toneladas de conjecturas e subjetividades. Por vezes tenho argumentos densos e momentos rasos para exemplificar o que sinto, é como estar sóbrio e sentir mergulhado em um rio de absinto.

        As certezas que construo desmoronam como castelos erguidos sobre nuvens. Minha mente, inquieta e incansável, desenha cenários onde sou o arquiteto e o invasor, o criador e o sabotador. O que penso me guia, mas o que sinto me trai, e entre a razão e o delírio, danço como um fantasma que não sabe se pertence ao mundo dos vivos ou dos sonhos.

        Às vezes, carrego verdades que brilham como constelações perdidas em um céu sem noite. São fragmentos de lucidez que cintilam, mas nunca iluminam o suficiente. No instante em que tento tocá-los, eles se dissipam como o vapor de um copo esquecido ao lado de uma janela aberta. Então me pergunto: sou feito de matéria ou de ilusões?

        Os silêncios que me habitam são mais estrondosos que qualquer tempestade. Há neles um peso invisível, um significado oculto que nem mesmo a lógica mais afiada consegue decifrar. Talvez seja essa a natureza do mistério, existir não para ser compreendido, mas para ser sentido, como um vento frio que arrepia a pele sem jamais ser visto.

        E se as palavras que digo não forem realmente minhas? E se elas forem ecos de um passado que insiste em sussurrar através de mim? Há momentos em que minha voz me soa distante, como se eu fosse apenas o narrador de uma história que nunca escrevi. Quem, então, segura a pena que desenha os contornos da minha existência?

        As sombras que me assombram já não sei se são minhas ou herdadas de um tempo antes de mim. Talvez sejamos apenas reflexos de medos antigos, perpetuados por gerações que nunca tiveram coragem de nomeá-los. O desconhecido sempre tem mais peso do que o que podemos tocar, e ainda assim, seguimos tateando o vazio como se nele houvesse algo a ser descoberto.

        E há. Sei que há. Há um segredo escondido na dobra dos dias, um código que se revela apenas aos que têm coragem de questionar. Mas quanto mais pergunto, mais percebo que a resposta escapa, como se a verdade fosse um peixe ágil nadando em águas cada vez mais profundas. O que há no fundo desse oceano de incertezas?

        Minha mente é um labirinto onde cada saída leva a uma nova entrada. Dou voltas sobre mim mesmo, tentando escapar de algo que talvez seja apenas um reflexo distorcido no espelho da minha própria consciência. Mas e se, ao encontrar a saída, eu perceber que o mundo lá fora não passa de outro labirinto, ainda maior?

     Não há muros que me prendam além daqueles que construo sem perceber. São paredes invisíveis, erguidas com tijolos de medo, cimento de dúvida, vigas de um passado que insisto em carregar. E no entanto, sei que basta um pensamento para que tudo desmorone. Mas por que, então, hesito em derrubar essas barreiras?

        Talvez porque, no fundo, eu tenha medo de descobrir que não há nada do outro lado. Que a liberdade absoluta seja apenas o vazio mais absoluto. Que a segurança das minhas prisões seja preferível à vertigem do infinito. Ou talvez, porque a resposta esteja justamente na queda, na coragem de saltar sem saber se há um chão para me receber.

        E se tudo isso não passar de um sonho? Se cada palavra que escrevo for apenas um eco de algo que nunca existiu? Se o tempo for apenas um truque e a realidade uma ilusão habilmente encenada por forças que sequer ousamos nomear?

 

Afinal, se a resposta não existe, quem fez a pergunta?

13 de fevereiro de 2025

A Teoria Quântica dos Sentimentos Ocultos, ou O Código das Confissões Silenciosas



    Sente-se, vou servir um café ou prefere um whisky? Vamos conversar sobre a teoria quântica dos sentimentos e a filosofia que adorna a paixão, despertando desejos que ninguém ousa confessar. Não tenha pressa. O tempo aqui é elástico, dobra-se sobre si mesmo, distorce-se entre o que foi dito e o que jamais poderá ser pronunciado. Há segredos que não cabem na linguagem, porque palavras são traiçoeiras – elas não apenas revelam, mas deformam. E o que eu tenho para dizer não pode ser deformado.

    Você já sentiu algo tão profundo que a simples ideia de expressá-lo o fazia tremer? Já segurou um pensamento proibido entre os dentes, temendo que ele escapasse em um suspiro descuidado? Não estou falando de amores comuns ou culpas banais. Estou falando daquilo que se aninha no peito como uma serpente silenciosa, enrolando-se em torno do seu próprio nome, sussurrando verdades que ninguém deve ouvir.

     Há sentimentos que vivem na clandestinidade da alma, exilados por uma lógica cruel e arbitrária. Sentimentos que, se revelados, destruiriam certezas, desorganizariam a harmonia forjada com tanto esforço. Você já olhou nos olhos de alguém e percebeu que, se dissesse o que realmente queria, o mundo desmoronaria? Que uma confissão simples seria como um incêndio voraz consumindo pontes e atalhos, deixando apenas cinzas e espanto?

    Ironia das ironias: quanto mais se oculta, mais se torna evidente. O silêncio grita, o desvio de olhar denuncia, o riso fora de hora entrega. Os gestos tentam mascarar, mas a alma nunca aprendeu a mentir com perfeição. Engraçado, não é? O esforço para esconder só alimenta a curiosidade alheia. Mas este segredo... ah, este não pode ser descoberto. Porque ele não apenas perturba, ele reconfigura tudo.

    E se alguém suspeitasse? E se, por um instante, alguém percebesse os sinais, ligasse os pontos, decifrasse o código? Há um risco calculado em cada palavra dita, um perigo latente em cada pausa. Será que o mistério seduz ou apavora? O que é mais tentador: saber a verdade ou permanecer na doce ilusão da ignorância?

    Talvez, no fundo, todos carreguem algo assim – uma sombra, uma ausência, um nome jamais pronunciado. Algo que pesa nos ombros mesmo quando se tenta esquecê-lo. Mas e você? O que está escondendo agora? O que evitaria dizer, mesmo que o mundo estivesse à beira do colapso?

     Não precisa responder. Apenas beba seu café... ou seu whisky. E finja, como eu, que este segredo nunca existiu.




11 de fevereiro de 2025

Entre o Eterno e o Efêmero: Uma Ode à Vida



Na aurora de um instante desponta o enigma sagrado,

Cada sopro do vento é um verso em segredo entrelaçado;

Na dança incerta do tempo onde o efêmero se faz eterno,

Desperta o mistério do ser em um pulsar quase moderno.

 

Com ética e responsabilidade  moldamos o lume do viver,

Um farol que entre sombras nos guia sem se render;

No entrelaçar de escolhas de amor e de compromisso,

Descobrimos que a razão é o fio que tece o nosso improviso.

 

Prazer, doce chama que arde fugaz como o brilho do luar,

Convoca-nos a celebrar o instante mesmo sem o amanhã a pairar;

Cada riso, cada lágrima é um mosaico de paixão e dor,

Em que o mistério da existência se revela em seu esplendor.

 

No labirinto das incertezas onde o destino se faz trama,

Cada passo é uma paráfrase um enigma que inflama;

Entre rimas e silêncios entre sombras e clarões,

A vida se mostra como um livro de profundas reflexões.

 

Somos poetas do acaso, navegantes no mar do incerto,

Erguendo pontes de sentimentos num universo sempre aberto;

E a ética que nos guia como um compasso em nota pura,

Revela que viver é um ato de amor, de fé e de ternura.

 

Nos espelhos da existência o reflexo é vasto e singular,

Cada verso ecoa segredos que o tempo insiste em guardar;

Em cada alvorecer a dúvida dança com a certeza,

Entre o existir e o nada desabrocha a essência.

 

Assim entre o sagrado e o mundano se desenha nossa jornada,

Onde o mistério se mistura ao sonho numa trama encantada;

E mesmo que o amanhã se perca na bruma de um destino velado,

O presente se torna um hino um ato sublime e apaixonado.

 

Que o encanto de cada palavra seja um convite para sonhar,

A vida complexa sinfonia nos ensina a amar e a arriscar;

Pois na dança do agora, em meio à dúvida e ao fervor,

Reside a razão de viver: ética, amor e eterno esplendor.




5 de fevereiro de 2025

A verdade em sucumbência



Em tese todos os meus argumentos

Jaz desfalecidos,

As verdades absolutas

Se desfizeram,

As agendas permanentes

Não tem valor algum.

 

Em verdade vos afirmo

Que a fé foi inventada,

O mundo acredita

Naquilo que nunca existiu,

A estorias primitivas

Se tonaram historias reais.

 

Não há o que fazer

E nem o que refutar,

Não há tempo para perder

Se nada podemos mudar,

Como podemos compreender

Se nem sabemos como explicar.

 

Se a razão se esvaiu

No vento da conveniência,

E a dúvida sucumbiu

Diante da obediência,

Que verdades restam

Além da incoerência?

 

Os livros sagrados

Foram lidos ao avesso,

Reescritos em dogmas

Por quem dita o progresso,

E a voz da ciência

Ecoa em falso endereço.

 

Se tudo é ilusão

E a crença nos governa,

O ciclo se repete

Numa marcha eterna,

Pois a verdade muda

Mas a cegueira é eterna.




Todos os textos são autoria de Giliardi Rodrigues. Proibida a reprodução de qualquer texto sem prévia autorização do autor.

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