Um rastro de luz no olhar desatento.
É a brisa que embala o peito cansado,
O riso que escapa num dia encantado.
É ver no infinito um traço divino,
Sentir que há vida no mais pequenino.
Um grão de areia, um raio de sol,
O eco das ondas num canto sem dó.
É ter nos olhos a sede do novo,
Sorrir para o tempo sem medo do jogo.
É ouvir no silêncio a doce canção
Que vibra nas cordas do próprio coração.
O espanto se esconde nas folhas caídas,
Nos sonhos que brotam das horas vividas.
Na dor que ensina, no amor que consola,
Na alma que dança ao toque da aurora.
É tudo mistério, é tudo certeza,
É ver na poeira os traços da realeza.
É olhar para o alto e ver no azul
O nome do Eterno bordado no sul.
A vida é um quadro que nunca se encerra,
Mistura de cores, de céu e de terra.
Caminho sem mapa, um voo sem chão,
Destino que pulsa em cada estação.
Se o assombro se apaga, se fecha a visão,
O mundo se torna um vão sem razão.
Mas quem se permite sentir e viver,
Descobre no espanto o dom de nascer.