Na ordem da pólis, tudo que é natural aspira à sua realização. O homem, por sua natureza, é um ser social, e o casamento — ou gamos — surge como uma instituição que visa à perpetuação da espécie e à harmonia da oikia, a casa. Contudo, quando a justiça — fundamento de toda virtude política — se ausenta das relações entre os gêneros, o matrimônio, que deveria ser uma comunhão de afetos e responsabilidades, torna-se prisão velada para o varão.
No mundo grego, o casamento era celebrado para assegurar a descendência legítima e a estabilidade do lar. A mulher, por sua vez, era guardiã da casa, enquanto o homem se lançava aos ofícios públicos e privados. Cada um exercia seu papel conforme a natureza lhe concedera. Mas o logos moderno, ao alterar as leis e inverter os pesos da balança, feriu a equidade que deveria reger o contrato nupcial.
Hoje, o homem entra no matrimônio como o atleta que corre em direção ao fogo, sem se dar conta das chamas. Herda dívidas invisíveis: a obrigação de sustento, o temor do abandono, e, sobretudo, a ameaça do despojo. Se falha em manter o padrão, é julgado pela pólis como indigno; se separa-se, torna-se servo de um dever perpétuo — chamado pensão.
A mulher, que antes era partícipe da construção comum, em muitos casos chega ao casamento sem bens, e dele sai com metade — ou mais — do que não construiu. Este paradoxo, em que o homem dá e nada recebe além do acesso carnal, mostra o desequilíbrio do acordo. Pois o prazer, se é a moeda de troca, é volátil; e a responsabilidade, esta permanece.
O sofrimento do homem moderno, portanto, não é fruto da união em si, mas da ilusão que a cerca. Espera amor eterno e recebe julgamentos. Espera companhia e encontra cobrança. Espera gratidão, e encontra desdém jurídico. O casamento deixou de ser contrato entre iguais para tornar-se armadilha legal mascarada por promessas de afeto.
Eis, então, a escravidão da escolha: o homem assina com a alma aquilo que o corpo deseja, e paga com o espírito o preço de sua ilusão. A liberdade está, pois, em reconduzir o logos à frente do eros. É necessário que o homem reflita, antes de contrair matrimônio, se a conveniência da pólis justifica sua entrega total à incerteza do afeto.
Tal como Ulisses diante das sereias, o varão deve tapar os ouvidos para as melodias do romantismo que o conduzem ao naufrágio financeiro e emocional. O amor sem prudência é o vinho que embriaga a razão. E todo contrato feito sob delírio está fadado à injustiça.
A libertação não está no celibato, mas na consciência. Que o homem conheça os termos do jogo antes de entrar na arena. Que saiba que o matrimônio moderno não é aliança, mas aposta. E que, sem garantias mútuas, o risco é sempre maior para quem mais entrega.
Portanto, como filósofo, recomendo ao homem que deseje casar-se: reflita se está pronto a doar sem receber, a perder sem lutar, a cumprir deveres sem direitos. E se, ainda assim, decidir-se, que o faça não por ilusão, mas por escolha racional, com cláusulas claras, contratos firmados e expectativas moderadas.
Pois a justiça é dar a cada um o que lhe é devido. E quando o matrimônio deixa de ser justo, deixa de ser virtuoso. E aquilo que não é virtuoso, segundo a ética, não deve ser buscado, mas evitado.
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